terça-feira, 5 de julho de 2011

Santander busca inclusão bancária



O refrão "juntos", alardeado pelas campanhas publicitárias do banco Santander no rádio e televisão, agora servirá de mote para a estratégia de crescimento da instituição na América Latina até 2013. O objetivo do banco é acompanhar o desenvolvimento das classes médias nos mais diversos países da região, incluindo essa população no sistema financeiro ou dando a ela acesso a mais produtos e serviços bancários.

"Queremos ser a ponta de lança da inclusão bancária na América Latina", disse Francisco Luzón, presidente para a divisão América do banco espanhol, durante apresentação do plano para jornalistas em Santander. Sem fazer projeções do número de pessoas às quais pretende dar acesso a conta correntes ou outros produtos, a instituição afirma que pretende colocar em ação um plano de "bancarização consciente" - por mais amplo e até mesmo polêmico que o conceito possa a ser -, envolvendo governos, instituições financeiras e a sociedade.

O que o banco mira é o baixo nível de penetração dos serviços bancários na vida dos latino-americanos, que está em uma média de 30% nos sete principais países da região: Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai. Enquanto na Espanha 780 cidadãos a cada mil têm dinheiro depositado em banco, no Peru, somente 130 indivíduos possuem conta bancária, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional. Apenas o Chile alcança a média mundial, em torno de 75% de inclusão bancária.

Dentro do plano de "bancarização consciente", o Santander defende a "rentabilidade justa", um tópico que não deixa de ser polêmico para uma instituição que busca o lucro para seus acionistas. "Defendemos uma rentabilidade adequada ao nível de capital que consome e aos riscos envolvidos. É uma irresponsabilidade ter preços altos, desajustados. Ao mesmo tempo, temos obrigação de ser eficientes", afirmou Luzón.

O quanto isso significa para o caso brasileiro, por exemplo, é uma incógnita, já que o banco não quantificou a estratégia. Segundo dados do Banco Central, em junho, o Santander cobrava das pessoas físicas em financiamentos a veículos 1,83% ao mês, a 13º menor cobrança entre as 52 instituições pesquisadas. No cheque especial, a taxa era de 10,33% ao mês, a mais cara entre os 33 bancos listados.

No Brasil, o banco Santander cita como um exemplo de contribuição do governo para a "bancarização responsável" as medidas adotadas pelo Banco Central nos últimos meses para conter a expansão do crédito. "Me alegra ver que o governo limitou a expansão do crédito. Isso evita uma bolha do consumo", disse Luzón.

Questionado sobre a criação de novos produtos que possam promover a inclusão de mais pessoas no sistema bancário no Brasil, o executivo citou o crédito imobiliário. Diante da possibilidade de esgotamento dos recursos da poupança já no próximo ano, o banco defende que o governo crie novos títulos com incentivos para os bancos captarem dinheiro de longo prazo. "Hoje o crédito imobiliário está concentrado na Caixa Econômica Federal ", afirmou Luzón, citando o principal agente de financiamento do setor no país.

Em todos os países latino-americanos, o projeto de incremento da bancarização inclui o comércio exterior, com a criação de escritórios que possam ajudar pequenas e médias empresas na internacionalização de seus produtos e serviços, tanto entre os países vizinhos, quanto com Espanha e Portugal.

O projeto de bancarização do Santander ocorre em um momento em que o banco tem sido pouco capaz de incluir mais clientes em mercados já desenvolvidos, ainda mais em tempos de crise na Europa. Isso tem feito o peso da América Latina crescer nos resultados da instituição. No primeiro trimestre deste ano, a região foi responsável por 43% do seu lucro líquido no mundo.

Mesmo com a melhora do cenário na Europa, a expectativa de Marcial Portela, presidente do Santander Brasil, é que a unidade brasileira siga contribuindo com 25% dos resultados nos próximos anos. Um ponto que pode ajudar no crescimento das atividades da instituição no país é a concentração pela qual Portela acredita que o sistema bancário passará no Brasil nos próximos anos. "Os bancos pequenos e médios ou vão se unir ou vão desaparecer daqui para a frente. Esse modelo de gerar crédito e revendê-lo está em xeque, não vai sobreviver. E com isso, os bancos menores vão se deparar com problemas para financiar suas atividades."

Fonte: Valor Econômico


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