Com todo respeito que tenho pela categoria, porque faço parte dela há 37 anos, quero fazer algumas considerações que acho necessárias:
1- Uma greve tem começo, meio e fim, com a condução de um sindicato para evitar que a informação contraria derrube a mobilização.
-O começo vem da insatisfação com salário, falta de condição de trabalho, assédios, injustiças e tantos outros motivos.
-O meio é justamente a união de todas as reclamações ou insatisfações, transformadas em uma minuta de reivindicações e a entrega aos patrões, com marcação de negociações e discussões a respeito, terminadas em impasses por qualquer motivo, geralmente o monetário.
-O fim é a deflagração da greve, a mobilização de todos e as analises das contrapropostas quando feitas, em assembléias convocadas para esta finalidade.
2- A greve por si deveria resolver todos estes problemas, seja de ordem monetária ou social e é justamente para isso que elas são conclamadas, para medir forças entre quem tem e quem não tem, mas quer ter.
3- Uma greve deve ser participativa, com adesão de todos os funcionários conscientes de seu direito. É para isso que os sindicalistas se postam nas portas dos bancos, para trabalhar a conscientização daqueles que ainda não entenderam o momento e o direito a greve.
4- Uma greve participativa é com o envolvimento da categoria, qualquer ela que seja e não existe outro modo que não seja com o trabalhador atuando juntamente com o sindicato. Não existe movimento grevista onde um adere e o outro por causa do cargo ou da condição familiar, não adere.
5- Na greve devemos colocar todas as nossas frustrações, acreditar que conseguiremos avançar, melhorar a situação atual, independente de ser ela econômica ou social. Durante a greve não podemos admitir receber denuncias anônimas de cobrança metas abusivas. É sinal de que alguém que não esta fazendo greve, pede ajuda para ser mantido dentro do banco sem ter o que fazer.
6- A greve precisa de mobilidade do sindicalista, que percorre a base territorial fazendo o trabalho de conscientização, enquanto os grevistas realizam os chamados “piquetes”, necessários para impedir que outros adentrem o expediente com a alegação de que ninguém me impediu de entrar. O sindicato não tem obrigação de impedir ninguém, temos que ser conscientes do que queremos. Este piquete foi realizado somente em uma cidade de nossa base, composta por bancários conscientes de verdade!
7- As clausulas sociais são colocadas em primeiro momento nas negociações para que não se misturem com as econômicas, sabidamente contestadas em sua totalidade pelos banqueiros. Na mesa de saúde negociamos a extinção do buraco negro, quando o funcionário retorna por força da alta programada e o medico do trabalho não o considera apto. Este bancário ficava sem salário de ambos os lados. Na mesa de segurança, negociamos um pacote de providencias (porta com detector de metais, divisórias, biombos, divisórias, filmagem em tempo real, vidros blindados, entre outros) que serão colocados a prova no combate aos crimes de assalto a bancos e os conhecidos como saidinha de banco. Na mesa sobre igualdade de oportunidades, esta sendo preparado um plebiscito para provar que mulheres, negros e deficientes físicos recebem 25% menos salários que os homens.
8- Com respeito aos salários, o Comando de negociação deixou claro que não aceitaria mais diferença de índices para os funcionários ativos, que exigimos uma melhora com relação ao piso da categoria que chega ser quase a metade do salário bancário de outros países da America latina. Quanto a PLR, o pagamento será feito em duas parcelas, uma 10 dias após a assinatura da CCT e a outra no inicio do mês de março, após a divulgação dos balanços.
9- Enquanto o comando apresenta números de paralisações aos banqueiros, eles apresentam outros números com informações contrarias as nossas, dizendo que tantos bancos apontados como fechados, estão com seus códigos funcionais ativos (computadores pessoais, laptop, celulares de ultima geração) que permitem a visualização do funcionário trabalhando, dentro ou fora da agência.
10- A paralisação foi agendada fora do 5º dia útil para justamente não ajudar os banqueiros na retirada dos clientes de dentro dos bancos. Para os desavisados, nossa greve serve de laboratório para os banqueiros em saborear como a eficiência de suas iniciativas de mais de 10 anos atrás (Correspondente bancário, terceirização, internet, auto-atendimento e desunião do quadro de funcionários) atrapalham, desmobilizam e ofuscam nossa greve.
11- Não existe movimento grevista sem união. Os banqueiros são unidos em beneficio dos menores, assim os maiores se beneficiam ainda mais em termos financeiros. Em nossa categoria e ninguém gosta de falar nisso, existe uma divisão interna entre comissionado e não comissionado, onde quem pode fazer greve é somente o não comissionado. Isso é mentira! Todos os trabalhadores podem fazer greve no mês de dissídio, como é o nosso caso.
12- O sindicalista não consegue cobrir toda uma base territorial, é preciso ajuda dos grevistas, é preciso união da categoria. Os bancos fazem uso dos interditos e chamam seus comandados a retornar ao trabalho, que aceitam calados aquele chamado. Quantas vezes falamos de nossos direitos, do uso indevido do interdito, da obtenção desta liminar na justiça que poderia e deveria agir diferente, que todos deveriam aderir às manifestações.
Nossa vida profissional é cheia de altos e baixos.
Confirmamos com tristeza, que os novos funcionários bancários não sabem de nossas conquistas históricas e acreditam que o banqueiro é bonzinho em dar todos os benefícios recebidos por eles. Lamentável!
O sindicato acaba sendo e apontado como o culpado por diversas atitudes erradas cometidas pela própria categoria, como o exemplo das demissões por justa causa em função de transações financeiras de risco tão falada e alertada pelo sindicato, mas continuam acontecendo com falhas pessoais infantis e gritantes.
Se precisarem identificar um culpado, o sindicato esta aqui para suportar o peso dela, mas como em toda a categoria, acabamos sendo o reflexo ou o espelho do que somos no dia a dia.
Acompanhei as negociações durante 30 dias e admito a existência de “ conversas “paralelas”, feitas inclusive por mim quanto a assuntos específicos, que ajudam na construção de conquistas que beneficiam a categoria.
Também ouvi comentários de que o índice já estava negociado e por nossa infelicidade, o que falaram era melhor do que o proposto. Existe um interesse maior em tudo isso e vem de encontro com a realidade da falta de instrução ser benéfica para a política.
Em nosso caso a informação destrutiva é o caminho da desunião.
Respeitosamente quero dizer a todos os leitores, que o anonimato cria verdadeiros monstros, que tiram proveito dele para externar o que de ruim guardam em seu interior.
Quero com a graça do bom Deus, nas próximas greves, não ouvir mais:
“ “Vou entrar porque sou chefe”;
“Não posso fazer greve porque meu chefe não deixa”;
“A greve tem que durar 12 dias para dar tempo de ajudar o pedreiro em minha casa”;
“Vou pescar e não quero nem saber da greve”;
“Quem deve fazer greve são os caixas”
E a pior das besteiras:
“Boa sorte para vocês do sindicato na greve”.
Quero também cruzar o caminho dos bancários durante uma greve e não vê-los de cabeça baixa, seja de vergonha ou medo. A decisão é de cada ser humano e eu respeito
O conteúdo deste texto é de minha inteira responsabilidade, escrito sem a leitura ou concordância de nenhum membro da diretoria deste sindicato
Julio Cesar Machado
Bancário há 37 anos
Presidente do Sindicato dos Bancários de Sorocaba e Região